quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Eugênio

Eugênio....

Tinha tudo para ser feliz e não era...tinha tudo para ver o mundo de uma maneira diferente e não via.... Suas sensações eram assim, quase sempre incompletas. Seus desejos, seus sonhos eram assim - inacabados, insatisfeitos. Uma vida toda permeada pelo “quase”. Eugênio: quase um homem, quase um amor, quase Feliz. Depois da morte da irmã, a sensação do Incompleto, do vago aumentara ainda mais. A morte, para Eugênio, era vista da maneira mais clichê possível: destino de todos. Sentimento doloroso, inevitável e absurdo em sua naturalidade: pessoas perdem pessoas, amores são interrompidos- o choro, o adeus, o nada...

A morte da irmã, no entanto, não foi para ele somente o ritual comum de despedida e gritos permitidos que afetam todos que perdem alguém : era mais ... A ausência dela, a sensação de não ser que deixara provocara em seu espírito algo inusitado, obscuro, desesperado ... Algo que ele não conhecia muito bem e temia, temia, temia e temia...

Eugênio foi o típico garoto feliz, embora seu comportamento inquieto e ansioso às vezes deixavam as coisas mais difíceis na sua vida. Até os 20 anos tivera uma vida tranqüila, dessas da classe média burguesa, repleta de baladas, beijos na madrugada e apostilas de escola. Tivera uma boa família, pais cultos, sempre investiram na educação do filho. Aos 13 anos já tocava piano muito bem, falava inglês e alemão e tinha vencido dois campeonatos de natação. Orgulho de toda família, mimado por todos: na infância não faltara nada- brinquedos, os mais diversos, um total paraíso pueril. Volta e meia vinha-lhe a imagem da enorme caixa que ganhou no natal quando completou 5 anos. Agora, depois da irmã, essa talvez era uma das poucas lembranças do passado que gostava de ter: o pai vestido de papai Noel com um embrulho gigantesco, as luzinhas da noite de natal, a árvore, o choro da irmã recém-nascida, maldizia mil vezes, o choro do não lhe saia da mente, quase como uma obsessão.


sem revisão

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