segunda-feira, 24 de maio de 2010

Michelle

Porque o amor e a liberdade nos fogem: eis um grupo de jovens e suas tristes e belas histórias de amor, seus encontros e desencontros. Tudo isso em meio à ditadura militar. personagens aprofundados, conflitos, a música Michelle... Saudades...

sábado, 22 de maio de 2010

A Flor de Baudelaire

Todos os anos era sempre assim, aquela memória de um tempo bom que passou vinha e se apossava de mim. Em cada setembro, quando a primavera chegava, chegava também o cheiro de Clarice e com ela, seu gosto, seu perfume, seu tom. Ainda me lembro como se fosse hoje: você não conhece Baudelaire? Disse-me ela extasiada, à primeira vez que nos vimos numa palestra sobre cultura africana. Seu sorriso estonteante ainda está aqui, vejo e sinto-o até hoje. Nunca me esqueci de suas mãos firmes segurando as Flores do Mal e falando sem parar de literatura, das canções de Dálida, dos poemas de Rimbaud. Ela era a encarnação mais doce, mais pura, de tudo aquilo que eu esperava viver: mistura de sexo, solidão, angústia de ser feliz. A história de amor que vivemos foi algo que eu não esperava, longa, perfeita, durou o tempo que deveria durar. Vivíamos de toques, sensações, loucura e poema velhos. Com Clarice, pude conhecer o sentido de se ter algo, de se ter algo precioso, que valha a pena. O tempo passou, Clarice um dia veio sem esperar e simplesmente me atacou com seu olhar algoz e disse: acabou meu caro, acho que já não te amo mais... Era o fim de sempre, o adeus clichê que eu sempre estivera acostumado, a primavera apenas se iniciava e eu ali, cheio de flores mortas, velhas, palavras que já não se renovavam mais.... Desde então, a cada setembro sofro e bate uma saudade do curto tempo em que ela ficava ao pé da minha cama, o cabelo desgrenhado, os arranhões nas costas e o corpo nu, em cima de mim, lendo Baudelaire.